Gabriel Eusébio dos Santos Lobo ou apenas Ary Lobo tem nova compilação discográfica a ser lançada pela Analog Africa.

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Quem acompanha os movimentos musicais da nossa cultura deve ter notado essa jovem cantora vinda do Norte do Brasil. Mestre absoluto do Baião, do Côco, do Batuque e de outros gêneros musicais afins e dono de uma arte cem por cento própria, Ary Lobo é o intérprete ideal das canções nordestinas"

Estas palavras retiradas do encarte original do primeiro LP de Ary Lobo, “Forró con Ary Lobo” gravado em 1958, não são de forma alguma exageros. Quantos brasileiros foram enfeitiçados por sua voz ninguém sabe ao certo, mas o certo é que se trata de uma voz que poderia ter ficado calada para sempre, como explica o biógrafo Elmo Barros:

"Vindo de Belém do Pará, no norte do país, Ary Lobo estava pronto para lançar sua campanha no sul do país e partiu para o Rio de Janeiro em outubro de 1955. Lá ele encontrou os preconceitos sulistas habituais contra os cantores do Norte e só depois de conhecer Gadé, um conceituado pianista, é que conseguiu um teste na Rádio Mauá.

Mas a oportunidade quase se transformou em um desastre quando ele chegou à sessão em um estado tão frágil que não conseguiu atuar. A alimentação insuficiente e irregular afetou sua respiração, tornando impossível dar à sua voz a força necessária. Felizmente o teste foi adiado e na segunda tentativa ele conseguiu um contrato de cinco meses com a emissora onde ficou conhecido como sambista. À medida que sua reputação crescia, ele assinou contrato com a RCA Victor em junho de 1956.

O cenário musical carioca começou a perceber o recém-chegado que cultivava a personalidade de um cantor nordestino com profundas raízes na herança afro-brasileira. Ele daria início à nova década gravando aquele que muitos descrevem como seu melhor trabalho, “Aqui mora o ritmo”, lançado em 1960. Esse álbum foi seguido, um ano depois, por “Cheguei Na Lua”. a lua) em que cantou sobre sua paixão pelas viagens espaciais e pela lua em particular.

Mas a lua nunca seria suficiente para Ary Lobo que tinha alma cigana e adorava passear pelo país, participando de “caravanas” (como eram chamadas as turnês na época), apresentando-se em salas de concerto e também tocando em boates, cabarés e bregas; aquelas casas históricas onde a cachaça corria livremente, onde as prostitutas residentes recebiam seus clientes e onde a festa muitas vezes durava até o amanhecer. Este demi-monde cheio de tentações foi um paraíso inspirador para um boêmio como Ary Lobo, mas também sua queda em desgraça.

Ary Lobo gravou um LP por ano até 1966, quando lançou “Quem É O Campeão?” (Who Is The Champion?) este último álbum da RCA Victor. Todas essas gravações são maravilhosas viagens que levam o ouvinte pelas diversas regiões do Brasil; o guia turístico da viagem é ninguém menos que o próprio Ary Lobo que, além da filosofia, da ciência, da política e da religião, ornamentaria toda a experiência da viagem com um olhar aprofundado sobre as tradições de uma sociedade brasileira em direção à modernidade.

O forró, como acontece com tantos gêneros, viveu seu momento de grandeza, mas no final da década de 1960 sua popularidade começou a diminuir e Ary Lobo foi forçado a se mudar de uma cidade para outra em busca de oportunidades de trabalho. Por fim chegou a Fortaleza, onde morou até sua morte em 1980.  

Entre os cantores e compositores paraenses surgidos na década de 1950, Ary Lobo alcançou um nível de fama nacional único para sua época. Como intérprete de mais de 700 canções, seus discos não só lhe trouxeram grande notoriedade, mas também lhe proporcionaram muito dinheiro. “O nosso valor que venceu na Maravilhosa” foi a manchete da imprensa paraense para descrever a conquista do sul por Ary Lobo. Mas o que exatamente significou sua vitória? Para artistas negros e mulatos provenientes de contingentes empobrecidos da sociedade brasileira, a capacidade de desempenhar um papel de liderança no mundo do rádio, das gravações e das apresentações ao vivo foi uma conquista significativa. Isso torna mais fácil entender por que tanto dinheiro que Ary Lobo obteve com seu sucesso musical foi gasto nos prazeres evidentes de ser uma estrela.